25 de mai. de 2008

Perfil






CABARÉ
Ludimila Machado Tôrres




“Era um homem muito inteligente,
mas muito levado.”
(Angélica Barbosa Machado)

Ambientada no século XIX, tendo como cenário principal Itabira do Mato Dentro, a trama que aqui se desenrolará tem como protagonista Ocarlino Machado da Costa Lage (1890-1968). Enquanto na coxia, a coadjuvante Clotilde de Teixeira Lage (1902-1958) sofria de ansiedade, lá estava Ocarlino brilhando nos palcos da madrugada.

Pai de nove filhos, Ocarlino não era o que se espera de um pai ou esposo exemplar, nem ao menos deixou a eles bens materiais dos quais era farto; mas deixou um legado, uma lembrança de sua gula pela vida.

Jogos, mulheres, o cheiro da noite, a cachaça mineira. Talvez por essas paixões foi dono de um cassino chamado Cabaré, onde também funcionava uma casa de tolerância – nome simpático dado aos prostíbulos naquele tempo. Eram dois alqueires de terra onde hoje funciona o Itabira Plaza.

Por conseqüência do Cabaré, o túnel do Colégio Nossa Senhora da Dores foi criado. Para que as mocinhas do internato e as freiras não testemunhassem a imoralidade.

Após dez anos, nosso personagem estava endividado. Vendeu suas posses, pagou suas dividas e com o restante do dinheiro comprou um estoque de sardinha. Perdido.

Para Clotilde, o drama não acabava ali. Depois da venda do cassino, seu marido passou a viver viajando. Conseguiu licenças falsas de odontologista e médico. Também era parteiro nas horas vagas. Freqüentava festas, bailes, carnavais sempre em diferentes cidades. Fez diversos partos, diagnosticava e receitava medicamentos.

Certa vez foi à casa de uma mulher para colocar uma dentadura; depois de algum tempo a boca dela estava inchada e dolorida. Os empregados da casa não sabiam o que fazer e chamaram o Dr. Ocarlino de volta para consertar o estrago:

-Saiam do quarto, isso é normal.

Pegou um saca-rolhas do seu material de trabalho. Quando ela menos esperava o Dr. Furou sua boca com o instrumento e o pus armazenado espirrou para todo lado.

-Está vendo? Não falei que dou conta do meu trabalho.

Clotilde saiu de cena.

Agora com 74 anos, nosso protagonista se casa novamente e vai morar na cidade de Belo Horizonte. dona Dudu o acolheu e com ele teve um filho.

Mas não pense que ele parou por aqui; ainda fazia partos e se reaproximou do filho: José Acácio Machado(1924-1990). Morou seis meses com ele e a nora: Angélica Barbosa Machado, de 73 anos. Ela conta que seu sogro era um personagem terno, apesar de sem juízo. Quando tinha dinheiro comprava acessórios para decorar a casa. Cozinhava muito bem. “Um homem muito inteligente, via solução pra tudo”, ela conta.

Antes de morrer, estava muito fraco, então cheio de idéias amarrou uma correia na cama para se levantar. Devido aos vícios adquiridos durante a vida malandra, e um enfisema pulmonar, deixou os palcos da vida aos 78 anos de idade.

Um comentário:

iscata@hotmail.com disse...

É um relato muito gostoso de se ler. Conheço os locais e pessoas que conheceram o personagem.