Um pequeno retrato da minha menina triste.
O vestido era preto, como a negrura que ocupava seu coração. Preto como o terno que, a canto de olho, ela não deixava em paz. A única luz vinha da pele e do cabelo loiro, que mais tarde ela pintaria de preto também. Mas estava linda, parecia a debutante no baile da amiga.
O “sim” era negro. A palavra soava negra, assim como tudo ficou depois dela. Mas a menina já não sabia mais dizer “não”, as três letras grudavam, se agarravam a uma lembrança funda. Não saía. O sim era pra outro terno e desviou. Era só fechar os olhos agora, com eles fechados tudo parecia igual. O primeiro beijo não era pra ser assim e ela sabia, mas não sabia mais dizer não.
Daí em diante, bem... Nada de cor de rosa. A menina cresceu e o “não” continua engasgado. E quanto mais “sim’s” ela pronuncia, mais negro tudo se torna. O nome, os sonhos, o antigo terno, o arrepio gelado, a vergonha no rosto, a volta pra casa, o sol da manhã de domingo. A menina cresceu, e ainda é uma menina em preto e branco. O perfeito retrato de olhos baixos, braços cruzados, num canto qualquer e uma esperança. A menina que não sabe dizer não também não aprendeu a voar.
(Ludimila Tôrres)