19 de mai. de 2009

Shakespeareana

To be AND not to be:
That is the CONTRADICTION.

17 de mai. de 2009

Vinicius de Moraes











Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...
Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...
Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...
Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!

Para Tata, amigo


Eita sujeitinho ensimesmado quando arresórvi tirá os verso da cachola... Cabra da peste aquele baixinho! Fidumaégua, fidumarapariga!
Já passei foi a garrucha nuns três violeiro assim, pidino arrego pra essa rapariga aqui que num tem dó nem de santo nem do demo. Punhava era uma bala no lugar dos denti do infeliz. Não tem limites pra fouxidão do homi quando ele se punhe a tocá. Meu São Lázeo, meu São Ciprião... Não adianta nada, nem reza braba. Mais é chegá a madrugada ou fim de tarde que vira um disse-me disse-me que só. Violeiro baum. Que se num fosse baum eu num punha aqui meu côro a prova. Cabra porreta, pois óie, se num fosse porreta eu é que num ficava aqui encheno as cisma do safado branquelo. O tal que se um dia se fô dessas banda de Itabira dos Mato drento, inté penso que vo sinti farta do maledito! Já se vê que num é cabeça chata ou vermêio. Pois venho porque vim atestar a fama do cabra. Pá nenhum calanguinho butá defeito. E está atestado e feito.
Digo e num tiro! Disse, ta dito e pronto.

Para um amigo


Num remoto vilarejo de Itabiracity vivia um mentecapto. Não se sabe ao certo o seu nome, mas como Pedro o trataremos. Uma pluralidade de cores, sabores e formas.
A lenda conta a história de um garoto “arco-íris”, que possuía um lampejo de ínfimo brilho, como um diamante rosa. Quando o sol se punha ele batia palmas, e, à noite, saia pela pacata cidade executando peripécias. O estranho é que por onde ele passava, um pequeno arco-íris ficava; o ar tornava-se esfumaçado e expelia sabores estranhos.
Se ele sentia-se livre, um verde era facilmente visualizado e um sabor refrescante, quase hortelã era percebido. Às vezes o cheiro da liberdade de Pedro era tão forte que as narinas de quem passava ardiam pela substância expelida. Um lilás também era percebido depois de umas e outras. Ele se soltava e um gosto adocicado, um cheiro de pipoca, uma leveza penetrava em todos aqueles que respiravam o mesmo ar que Pedro. Ele nunca passava despercebido. Seu rosto assimétrico expressava exageradas formas de sentir. Era azul durante o dia, alaranjado ao pôr-do-sol e vermelho à noite. Às vezes se realçava com uma luz branca incandescente. Era bege quando magoado, trazia sabores salgados, não tão ruins, como se mínimas partículas de lágrimas se dissipassem no ar. Era roxo quando estressado e cor-de-rosa à todo momento. “Branquinho” pra uns, “Nego” pra outros.
Conta a lenda que ele nunca deixou de ser menino; e que à noite ainda podemos sentir cheiros, observar cores, perceber sabores e formas esfumaçadas em Itabiracity.

Por: Ludimila Machado Tôrres

AUTO BIOGRAFIA

Claro que, em um blog, é clichê as pessoas escreverem sobre elas mesmas e eu, particularmente, não sou fã disso. Somos muito insignificantes. Mas, passeando pelas entranhas do meu computador, encontrei um trabalho de escola de quatro anos atras, meu primeiro primeiro ano (repetição proposital, motivo de repetição do primeiro ano) para a aula de orientação vocacional. Sem cortes ou edição, fiquei impressionada com minha propria biografia. Por motivo de não querer perdê-la (no caso de meu computador comê-la) e a vontade de compartilhar, publico aqui:


Meu nome é Ludimila Machado Tôrres, Machado é espanhol (descobri num filme), é meio foda escrever a minha história porque eu já passei por muita coisa, muitas experiências e tudo resulta no que eu sou hoje. Não espere que eu me formule dizendo que sou uma pessoa “assim” ou “assado”, ninguém é capaz de se formular, de colocar características fixas... Sei lá, eu sou do tipo de pessoa que muda sempre, muda de comportamento, de jeito de pensar... Por enquanto eu não achei nenhuma rotina que me satisfaça. Ta, vou começar do começo: eu sou a primeira de três irmãos lá em casa, minha mãe está casada com o meu pai há 26 anos e quase um mês, ou seja, ela demorou 12 anos para conseguir engravidar (Deve ter sido psicológico, porque nem ela nem meu pai tinham nenhum problema). Aí pronto, eu cheguei e foi uma festa lá em casa (dá pra imaginar, né?); quando eu ainda era filha única era mimada de todos os lados, ainda bem que vieram meus irmãos e me tiraram da almofadinha... Tenho dois irmãos, O Hugo – 12 anos e a Camila – 9 aninhos. Eu esqueci de comentar, nasci no dia 27 de Março de 1991, no mesmo dia do aniversário da Xuxa e descobri há pouco tempo é no mesmo dia do aniversário do Renato Russo também. Sou do signo de Áries, ascendente infernal de Peixes (minha mãe), não me dou muito bem com ela, mas prefiro não comentar. Também sou Cabra do horóscopo Chinês e meu número na numerologia é 9. Sou batizada na igreja Católica, mas não tenho nenhuma crença ou religião e não pretendo fazer a Crisma. Eu amo Filosofia e adoro ler tudo a respeito, só acho que é preciso um pouco de fantasia para a vida ter mais graça, né?! Continuando, eu me considero uma pessoa muito diferente no meu modo de pensar e de levar a vida, desde nova eu gostava (e gosto) muito de ler, praticamente eu não fico sem ler e todo mês eu leio um livro no mínimo. Gosto muito de teatro e comecei a atuar em um grupo (ITART) com sete aninhos apenas, desde lá eu adquiri muito conhecimento a respeito, mas não estou nem no mínimo do que eu pretendo chegar. Sou realmente fascinada por teatro e pela história do teatro (Charles Chaplin, Bertolt Brecht, Constantin Stanislavisk...). Eu já tive ate vontade de seguir a profissão de atriz, falava que era pra poder ser e conhecer um monte de coisa diferente numa só profissão. Eu achava isso o máximo, poder ser médica, bruxa, aprender a cuspir fogo (adoro cuspir fogo), podia ser princesa, vampira, ser malvada sem culpa, poder morrer e viver assim de uma vez (...), acho isso fantástico! Eu saí ano passado do grupo porque estava sem tempo e o teatro exige muito sacrifício, acho que por isso eu não seguiria mais essa profissão; não por ser uma profissão instável pois quando se é empreendedor consegue-se estabilizar e ser bom, mas por ser uma profissão exigente (eu gosto de tatuagens e acho que vou fazer mais algumas, alem de não dedicar horas e horas do meu dia e da noite só pra uma atividade.), também o ator é muito dependente do diretor, e isso me da um pouco de raiva porque eu não gosto que me limitem, limitem minha criatividade e minha vontade. Aí teatro acaba sendo um hobby meu. Também já fiz escoteiro, uma pá de cursos que eu nem me lembro muito agora. Morro de vontade de acampar com meus amigos nos finais de semana, feriados... Mas aí fica só na vontade mesmo, está fora de cogitação. (Eu dano a ficar fazendo comentários, né... e minha história mesmo quase nada ate agora. É que eu procuro não detalhar muito os fatos, mas sim o que eu sou {ou penso que sou}). Então, continuando, desde muito nova eu gostei muito de arte, gosto muito de música também e amo Raul Seixas, acho que devo muito ao que eu li e aprendi com as musicas dele; não sigo nada nem ninguém mas eu acho que esse cara se parece muito comigo, muito. Também gosto de Legião, Cazuza, rock em geral (acho rock bem bacana). Tenho uns ideais meios hippies, pelo menos é o que me falam, sou muito filosofa mesmo, adoro ficar meia doida meia confusa porque eu gosto mesmo é de ser única, de pensar sozinha... Sei lá eu costumo falar que quase tudo hoje é uma latinha de conserva, que é tudo pronto só abrir e usar: o pensamento é pronto, a roupa você não precisa escolher, não precisa de nada porque você é uma latinha moldada de acordo com o que você foi destinado a fazer e pronto, você não pensa porque pensam pra você. Eu não, gosto de ser diferente, de conhecer pessoas diferentes... Não conseguem me rotular como rotulam uma latinha, me definir... Continuando, eu também me interesso muito por política, minha mãe já trabalhou na Câmara e agora ta na prefeitura então acho que é daí que ta meu interesse, não pretendo nunca ser política, mas acompanho tudo e tenho uma critica bem apurada pra minha idade. Paulo Coelho (que eu não gosto, pra ser clara, das obras; mas acho um cara muito inteligente mesmo) disse uma vez: “Eu não quero ser o presidente, prefiro ser o amigo dele”. É uma questão de esperteza e o mundo é dos espertos, por isso eu penso sinceramente em ser jornalista, mas não tenho opinião formada a respeito ainda. Eu não assisto TV, aboli completamente (acho que é muita comessão de mente). Outra coisa que eu acho uma merda é a danada da escola, formação de burro, de gente moldada e que pensa que sai mais inteligente. Escola é onde fabricam as latinhas mais conservadas, mas sociedade é de onde as latinhas vêm. É na escola que você “aprende” a ser um MODELO (odeio essa palavra), aprende a se comportar, vestir, falar, pensar(...). Os professores com a pose de quem sabe e você com a pose de quem ta ficando inteligente mesmo, eu nunca gostei dessa merda, coisa antiga... as unicas coisas que eu tenho orgulho mesmo de ter aprendido foi com livros que eu mesma escolhi ler, com a minha vida, já tive que passar por muita coisa que muita gente nem imagina. Sei lá, sou muito egoísta mesmo! E ao mesmo tempo que eu acho isso um defeito feio acho também uma qualidade muito especial... porque eu gosto de independência. Acho que não vou depender de marido nem de pais a vida toda, gosto de não dar motivo pra ninguém me “podar”, me controlar... Gosto de ser forte, não curto gente que reclama de nada não... Outra coisa de bobo é a merda do vestibular viu! Os professores fazendo medo em você todos os dias por causa dessa prova, ai vai a pressão da família dos bobos que já passaram... você coloca muito peso nessa merda de prova que pensa que prova o que você estudou em 12 anos ne. Aff, parei de esculaxar agora ta, eu esculaxo mesmo... eheheh
Tenho sim sonhos, muitos, e são tantos que eu não sei qual o maior. Mas é engraçado como eu não sonho mais com grana, com profissão. Meu sonho não é nenhuma profissão, na verdade eu não teria uma profissão só, fixa, uma “IDENTIDADE” como o povo chama, se não fosse só o meio de me sustentar. Meu sonho é poder pensar do jeito que eu penso, fazer um milhão de coisas, um milhão e meio de amigos, curtir tudo sem preocupar... assim, ter uma mente jovem ou ate mesmo mente infantil pra sempre. Porque eu adimiro muito as crianças, elas já nasceram com a melhor filosofia de vida e ninguém se deu conta disso ainda. Tanta gente procurando um meio de viver e se esquecem que as crianças tem o melhor deles... sei lá, acho que eu vo ser criança mesmo, sempre. É que eu não sou regradinha, não me coloco limites. A noite eu do uma de doida e fico olhando pro céu, saio na chuva quase sempre que chove, saio sem rumo, dia de sol eu saio também... deito na grama, se ta muito silencio eu grito do nada, canto alto e no ritimo que eu quero. Eu vivo mesmo no mundo da lua... Nunca faço mal a ninguem, é bom que você saiba mesmo. As vezes eu mesma acabo me machucando, mas é bom aprender a se levantar sozinha, quanto mais eu me machuco mais forte eu vou ficando, mais esperta! Sou maior que meus problemas, tipo sociedade alternativa mesmo. Tem uma coisa que eu gosto muito também que é a mitologia egípcia; a deusa Nuit, deusa da supremacia feminina e um dos ícones pro livro da lei de Aleister Crowlley, é mais ou menos assim: A mulher é a dadva do universo pois ela cospe o homem pra fora de seu ventre no mundo, como mãe; e o recebe de volta como sua esposa. É claro que é mitologia, mas eu gosto muito dessa ideologia, a FORÇA. Mas a minha filosofia mesmo é o yin yang, equilíbrio.
Mas você já deve estar cansada de filosofia ne, vou falar de esporte então. Gosto muito de esporte, não me lembro agora de algum que eu não goste.amo muito mesmo, não sou a melhor não, mas gosto muito.
Eu tenho um namorado que eu amo muito também, tenho muitos amigos e uma facilidade grande de conhecer gente diferente, se você não percebeu ainda eu falo demais, acho que deve ser isso mesmo, gosto muito de conhecer gente nova. Meu ponto fraco é com a minha família mesmo, não me sinto bem em casa, não gosto mesmo de conviver com ninguém lá de casa, sei lá mas eu acho que sou a ovelha negra mesmo. Mas isso não é coisa momentânea não, vem desde que eu me conheço por gente, é coisa minha, não gosto mesmo...
Eu não como verdura, não! Não não não!!! Agora, coloca uma barra de chocolate na minha frente pra ver se ela dura cinco segundinhos... doce, eu como ate açúcar pura, tenho anemia, já tive principio de diabetes por causa da minha glicose alta, mas não adiante, não passo um dia sem chocolate mesmo. Todo dia eu tenho que tomar sulfato ferroso, mas ta de boa.
Fico duas horas no banho se deixarem, mas meu quarto coitadinho, não me merece. Não sou nem um pouco organizada a não ser com coisas tipo escola e tal, mesmo assim fica um pouco a desejar. Meu guarda roupa só eu que encontro o que eu quero mesmo, é uma montanha, ta tudo misturado, calça, calcinha, blusa, camiseta, meuia, desodorante, tem coisa que eu nem imagino que possa estar quando eu encontro.
Sempre que tenho tempo livre eu procuro me distrair, sair de casa, arejar a cabeça, namorar... gosto de cinema, de musica, de internet, adoro clube, jogar xadrez, quase todo dia eu escrevo, adoro escrever... tem poemas, textos... juntando tudo deve dar umas 500 coisas diferentes mas eu não mostro muito pra ninguém, acho que é o meio de eu deixar minhas “memórias”... coisa de doido ne. Ah, eu amo bicho, animais, minha mãe me chinga mas se eu ver uma pessoa sofrendo e um cachorro eu ajudo primeiro o cachorro. Amo animais mesmo.
Não sei mais o que dizer... acho que eu sou eu mesma, tem uma coisa muito importante: vermelho é minha cor predileta... ah, isso não importa. Então agora eu não sei como terminar, acho que vou terminar terminando mesmo, seco, meio xato. Acabou, cansei de escrever.
Os. Não mostra pra ninguém não hem...

EMPESTAÇÃO


Estamos falando diretamente do Planalto Central onde uma terrível infestação parece não acabar. Nunca antes vistos em toda a história, tantos vampiros juntos discutindo suas mordidas. Tentaremos falar com um deles, senhor...
-Não sei de nada, são falsas acusações.
Vamos procurar algum caçador, mas nenhum se manifesta. Caçar vampiros parece uma difícil tarefa, todos possuem muito poder. São vítimas e carrascos das suas mordidas e CPI’s. Um marco na história brasileira. A grotesca imagem do vampiro, já desvanecida aos olhos fúlgidos da história; comungando nesse imenso circulo o sangue das suas capturas. Todos se entendem, o Senhor, o caseiro, o Deputado, o Banqueiro, o Capitão... Mas nenhum caçador se manifesta. Capturados, também, confessam que o sangue é suculento e irresistível.
Você da poltrona, do outro lado da tela, que está trabalhando... Vitima de ataques ao seu sangue, ao seu suor. Terrível epidemia de vampiros se alastra rapidamente, tome muito cuidado! Os sãos nada fazem, se escondem, se omitem ou acabam contaminados também.
Repetindo, estamos registrando um marco na história brasileira! O Palácio vira circo, tribunal. Enfermos! E os sãos nada fazem impotentes. Acabará o sangue bom? E as crianças? Tire o seu filho da sala! Nascerão enfermos? Frágeis? Morceguinhos?
E os bons? Onde estão?... Não! Socorro! Não...

Ludimila

BUCHA DE LOMBRIGA


Há dias ela observava que as crianças daquele abrigo estavam barrigudinhas e magras. Não poderia ser descaso da prefeitura que, a pedido dela, mandou um caminhão de filtros para as famílias desabrigadas da chuva. Mas a negligência e ignorância dos pais dessas crianças, que se não se preocupam com a educação, quanto mais com a saúde!
E como sempre, ela teria a absurda missão, não de colocar novamente as crianças na escola, mas de tratar da higiene da família, fiscalizando todos os Box de madeirite.
Era respeitada por todos daquele lugar, até mesmo os menos sociáveis. Era esperta.
-Ô Dona, tudo bem c’ôce?
Fazia que estava bem. Pedia licença para dar uma olhadinha no cômodo, e verificava tudo com naturalidade. A sujeira não era apenas visível, mas sentida mesmo com o olfato menos apurado. Poeira. Fogão imundo, panelas na pia a espera de água. O cômodo acomodava mãe, marido e três filhos. O mais velho com oito anos de idade. A família não possuía nenhuma renda aparente, mas ela sabia que naquele lugar dinheiro não era sinônimo de emprego. A cama de casal estava a um metro da geladeira, que se aberta toda vizinhança reconheceria o que havia dentro. Mas a cordialidade dela mascarava toda aversão àquela mãe de família e a permitia dizer coisas como:
-Suja essa casinha sua em Delfina, quero ver quando a prefeitura entregar a casa nova como é que você vai arrumar com essa porcaria... Que relógio bonito, antigo?
E continuou assim ate que, por fim, pediu um copo com água.
-Só tem da torneira.
-Mas por quê? E o filtro novo que dei pra vocês?
Foi direto verificar. Percebeu o nervosismo da Delfina quando abriu o filtro para ver o que tinha dentro. Buchas de maconha. Papelotes muito bem acomodados dentro do filtro.
-Ah, Delfina! Que porcaria –despistava- Pode ir tirando esses rolinhos, ou sei lá o que daí e colocar água pras crianças agora! Nunca vi que idéia de jerico, colocar rolinho de cabelo dentro do filtro!
Rapidamente os papelotes foram retirados e sem que ela percebesse o filtro já estava sendo lavado e cheio. As crianças não tiveram mais lombriga e nada mudou a relação cordial que mantinham. As vezes pra ser espertos temos que fingir de mula.

Ludimila 16/09/06

DEUS É AMOR E DINHEIRO.

Seu pastor não rouba não,
Metade do seu salário
É pra pagar o seu perdão.
Funciona assim: a nossa igreja é do bem
Dinheiro não trás felicidade a ninguém
Dei-nos o seu e seja feliz.
Não se apegue ao material, fiel.
Compre agora um lote no céu!
Anéis de ouro, colares de diamante...
Desfaça de tudo, nada lhe é importante.
A hora da coleta,
Oh,pai! Hora sagrada...
Venha carregado de pecado
Depois não lhe sobra mais nada.
Irmão, fé em Deus...
Ainda tem lugar no céu pros filhos seus.

Deus é amor e dinheiro.
Nossa sede: 666, Av. João Pinheiro.
Barracão, camping e visitas ao céu,
Preços acessíveis e negociáveis.

Não perca essa chance!
Deus é amor e dinheiro,
Descapetização total!
_Diversas filiais.

Ludimila 03/02/06

O TRAUMA


Após o cumprimento de nove meses de reclusão em regime fechado, num minúsculo e abafado envelope de papel pardo; sem direito a banho de sol ou refeições diárias o inocente fora levado, ainda preso, à sala do delegado.
Via o sol nascer quadrado por uma janelinha de dois centímetros quadrados. Passou frio, enfrentou sozinho dias de calor intenso... Nunca possuíra o direito de visitas semanais, mas era estimado e de família. O pobre era sempre lembrado com lástima e impotência pela mulher que tantos anos o guardara. Mulher que, neste dia rompeu duas horas burocráticas e frustrantes para conseguir vê-lo.
O fitava com piedade através da minúscula janela, pois o preso deveria ser fotografado antes de qualquer ação. Finalmente o inocente foi solto sem nenhum direito a indenização. O reencontro com a Mulher foi emocionante; o pequeno e franzino lhe enchera os olhos. Ela deu-lhe um grande abraço e o pegou no colo:
- Coitadinho do meu neném, gente. Agora tudo vai ficar bem, viu. Pra cadeia você não volta mais.
E de tão contente, nem comentou o fato do assaltante da sua bolsa estar solto e o canivete seqüestrado dentro dela e por sorte, resgatado; ter sido apreendido pela policia como prova durante nove meses.
O delegado não escondia tamanha vergonha pela incompetência; mas a mulher não deu atenção. Tratou de tirar o traumatizado canivete que há tempos ganhara de seu pai daquele lugar. Mas nunca mais o pequenino fora o mesmo...
Ludimila 14/09/06