28 de ago. de 2008

Crise existencial



Ao contrário do que parece, as pessoas não sabem gostar nem ao menos delas mesmas. São egoístas por força do habito. Sonham, para tornar a vida menos insuportável ou obrigatória. Ou vive, ou morre. E sempre se vivencia as duas faces. A lógica é viver o máximo já que a morte é inevitável. Mas a vida também pode se tornar maçante, insuportável. Insuportável estar presa em um corpo, estar condenada a pensar, comer, respirar, defecar. O amor é inventado. A liberdade é ilusão. E a morte é medo.
Não gostamos nem ao menos de nós mesmos. Ao menos não temos domínio de nós mesmos. Passamos por cima de todos e tudo para nos sobrepormos. Não sabemos ao menos porque fazemos isso. Portanto não saberíamos o porque de gostar de outras pessoas. Somos egoístas por força do hábito. Nos organizamos, inventamos passatempos, ciências, estudos, distrações. Temos consciência de que nunca nos descobriremos. Essa intensa busca é uma ilusão.
O nosso corpo é o presídio e a liberdade. Estamos condenados ao nosso corpo, condenados a usá-lo. Adoecemos e saramos, brincamos e distraímos o corpo e as sensações. Aproveitamos e desfrutamos de uma vida que nem conhecemos. Somos alvo de desconhecidos a todo o momento.
Criamos dogmas, crenças, bombas atômicas e polícia. Perseguimos pessoas, nos apaixonamos por carapaças diferentes, puro egoísmo. Não temos os motivos da vida mas nos enchemos de motivos para vivê-la. Negamos, aceitamos e oferecemos coisas e pessoas à todo o instante, de acordo com nossos interesses individuais e carregados de futilidade; pois nem ao menos sabemos o porque.
Cometemos crimes e criamos leis. Matamos-nos e trazemos a vida, mas não temos o poder de controlar a vida, de evitar a morte. Estamos sãos, mas de nada serviu a sanidade. Desejamos ser sinceramente amados mesmo sabendo que o amor é uma mentira, uma invenção. Não queremos ser traídos mesmo sabendo que havemos de ser e trair.
Inventamos histórias, procuramos outros mundos, outros lugares, perpétuos e bons. Inventamos religiões, deuses, coisas grandiosas e deslumbradoras para suprir e nos dar força ao passo que não sabemos ao menos que temos força. Sonhamos para tornar a vida um pouco mais suportável, explicável.
E o mundo parece também não saber de sua existência, todo ele em seus conjuntos e partículas. Todo o mundo é confuso e indeciso.
Cansa-se do inverno e torna-se primavera, denota-se significados para as flores, o clima, o tédio mascarado que puxa o outono e atrai o verão. O calor, o frio, o bom e o ruim. O mundo não sabe o porque. E o mundo também se sente sozinho e preso à partículas vitais, que morrem como os homens. O mundo não sabe o porque dos rios, dos mares, das árvores nem dos próprios homens. Ele quer se livrar dos homens. O mundo é egoísta como nós, parasitas. Ele não sabe porque ser egoísta. Talvez, ele não queira mais ser mundo, está mais cansado do que nós que inventamos distrações. Ele não sabe que morre, é maior e é sozinho. O mundo apenas vive, gira, anda e recebe bombas. O mundo se suja de sangue, mas não morre. Ele inveja a morte. O mundo, como nós, sente a dor da existência assim nos sofremos com a existência de tantos mundos.
Não suportamos ser julgados. Nosso mundo é tão pequeno dentro desse corpo que nos abriga, mas é o maior e mais complexo de todos. Não suportamos que mudem as leis do nosso mundo. Somos o núcleo do egoísmo. A lei que nos favoreça ou usaremos da lei para desfavorecer também.
Tentamos ser otimistas a todo momento e pessimistas quando nos favoreça.
De repente somos ameaçados de morte. Temos a cara da morte. Temos a cara do medo. Às vezes podemos matar primeiro. Mas não conseguimos deixar de pensar na morte. Se é boa ou ruim. E tudo que construímos, toda a vida , todas as ciências e momentos de gozo nos parecem estupidez. É o enorme peso que a consciência Morte nos traz. É o não poder fugir da morte, apesar de poder se safar das pessoas. E o não saber a nossa hora.
28/08/2008

25 de ago. de 2008

vai-e-vem

Espero-te afrouxar as rédeas da sua vergonha enquanto você se esquiva sem querer fugir. Você está me provocando ao se esconder por receio de se mostrar. Cativando-me. E eu te provoco. Faço uma aposta no sábado à noite; te arranco um sorriso, a roupa e um beijo. Sinto seu cheiro moreno e me enlaço em seus pêlos. Estamos quentes. Fico colorida de morena, à seu tom.
Amanheço ainda com a morena calma que você me deu. Estou tonta e tento desequilibrar o seu safar. Mas você já está são, rangendo dentes. Recua. Estamos mornos de cara amassada. E é morna que fico.
Uso minhas artimanhas para provar de novo a sua cor. Você não procura, não telefona; está ocupado demais preparando o próximo bote. E ao menor sinal recebo uma mensagem de bom dia. Está esquentando, preparando o terreno. E me esquenta. Eu sonho moreno, desejo e entro no jogo. Esse vai-e-vem de espera e fantasia. A atividade criativa de imaginar como você está é o charme do recuar e atacar.
Te deixo, te permito. Você está me provocando e eu caí como uma pata. Faço uma aposta no sábado à noite; te arranco o sorriso, a roupa e o beijo. Sua pele morena de cheiro moreno me enlaça e impreguina, sou morena também.
Os. Então faço uma aposta no sábado à noite, e durmo.